quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Visões




     Imagens em processo, para a sequência intitulada "Visão". Após o "nascimento", há este momento onde o Homem ganha a Visão, e pode então enxergar além. Encontrar esse caminho no meio do monte de possibilidades que sempre me aparecem foi também uma visão interessante. Curiosamente, essa ligação me ocorreu durante uma aula na faculdade de filosofia (curso que retomei recentemente, por sinal). Ironicamente, não estava havendo aula, pois o professor ainda não havia chegado. No verso de uma folha de outra disciplina comecei a rabiscar, e a figura do olho me ressurgiu. De repente, vi um poderoso elo entre várias sequências que havia feito antes, mas que ainda não sabia como resolvê-las. Agora as coisas estão um pouco mais claras, no processo tão pessoal de se fazer este filme.
     Voltando às imagens, a primeira foi feita hoje mesmo, num estudo para o começo da sequência da Visão. A textura de fundo é algo que já buscava há tempos, e a melhor maneira de fazer que encontrei no momento é a digital, direto no Corel Painter, com a ferramenta do lápis de cor. Embora demore um bocado para uma imagem assim ser criada (entre 20 a 30 minutos), considerando a quantidade delas que imagino pra esta sequência (que será de algumas centenas), ainda vale todo o esforço, comparando com outras cenas, que bons resultados são conseguidos com frames feitos muito rapidamente. Enfim, mas cada uma é cada uma. Cada cena pede o seu processo e o seu tempo, tenho que respeitar isso. Já a segunda imagem é uma que já tenho feita há um bom tempo (cerca um ano atrás), mas que passou a não se encaixar depois fiz alterações (nova e novamente) as sequências. Se pensar porém do ponto de vista do Olho, fica bem interessante. Peguei então a imagem e fiz um olho na parte vermelha, e agora as coisas parecem se encaixar bem. Só preciso colocar o olho nos outros desenhos desta cena e o resultado deve ficar interessante.
     Como sempre comento, vários momentos do curta estão em processo simultaneamente. O bom é que não nos cansamos de uma sequência - ou melhor, até me canso, mas aí posso fugir pra outra, e renovar um pouco o "ar"... :)

     Já foi dito que o processo de se criar um filme de animação é algo muito solitário. Bom... eu particularmente concordo. Pelo menos da maneira como faço, onde crio meus trabalhos sozinho ou com mais uma pessoa, é tudo mesmo muito pessoal. Ao criar as cenas sem grande preocupação, de forma espontânea, como saem da cabeça,  cada vez me identifico mais (claro, resguardadas as devidas proporções) com a busca do mestre Norman McLaren, que sempre pensava em maneiras de estar mais livre, espontâneo, solto e dentro do seu trabalho, mais mergulhado, sem tantas etapas que distanciem o artista da sua obra. Pois, afinal de contas, cada imagem do presente trabalho deve ser concebida, executada, finalizada, digitalizada, tratada, ordenada, montada... e no fim de tudo isso, é muito fácil você se perder ou mesmo querer fazer tudo diferente, pois aquela chama presente na hora da criação inicial muitas vezes se apaga parcialmente ou então vai queimar em outro lugar. Isso não necessariamente é ruim, mas do ponto de vista do curta, as coisas ficam inacabadas ou feitas de uma maneira "mais ou menos". Voltando para o caso do "Círculo", claro que a criação direto no computador elimina vários dos processos que descrevi, mas nada tira o "sabor" das imagens criadas fisicamente. É só olhar para o efeito dos raios saindo do olho da figura, na segunda imagem, feita com nanquim diluído. Não há como se replicar um efeito de aquarela digitalmente. Por outro lado, retoquei esse nanquim digitalmente para ficar vermelho, e funcionou melhor ainda. Enfim! Fazer cinema, cada vez vejo mais, não é câmera, não é roteiro, nem atores, nem desenhos, nem pinturas, nem edição, nem nada disso. Aliás, fazer cinema nem sequer é cinema. É na verdade vida, é se criar vida. E para isso, o essencial, na minha humilde visão, é: tomar decisões. Fazer escolhas. O tempo inteiro. Mesmo que não se faça sentido, mesmo até que não concordemos, o importante é não parar. Em frente :)

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